Centros de referência atendem mulheres em 20 territórios de identidade na Bahia

As mulheres vítimas de violência da capital e do interior do estado têm acesso, nos 27 Centros de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM) espalhados pela Bahia, a atendimento especialmente criado para elas. Este número já abrange 20 territórios de identidades baianos e deve crescer ainda mais nos próximos anos. Nesta quinta-feira (27), mais um centro, batizado de CRAM Maria Felipa, foi inaugurado, desta vez na cidade de São Francisco do Conde, no Recôncavo Baiano.

A estrutura do Centro oferece assistência jurídica, psicológica e de assistência social a mulheres em situação de violência, através de uma equipe multidisciplinar disponível nos CRAMs, composta por advogados, pedagogos, psicólogos e assistentes sociais.

Cada uma dessas unidades, entretanto, não funciona apenas em seus imóveis, suas ações provocam profundas mudanças na vida dessas pessoas, que vai além da assistência que recebem, como acredita a secretária de Política para as Mulheres, Olívia Santana, que participou da inauguração nesta quinta. “Nos últimos dias de outubro já estamos nos preparando para os 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher, campanha mundial realizada durante o mês de novembro. A entrega desse equipamento é um símbolo de conquista, uma vitória para todas as mulheres baianas, pois marca a construção de políticas públicas no sentido de garantir a efetividade da Lei Maria da Penha, que considero uma conquista civilizatória. Vamos continuar lutando para fazer valer os direitos das mulheres em equilíbrio com os direitos dos homens. Não podemos sustentar situações de subalternidade das mulheres em relação aos seus companheiros, por exemplo”, explicou a secretária.

Engajamento masculino

Com cerca de 68 mil ocorrências de relatos de violências registrados na Central de Atendimento à Mulher, através do Disque 180, apenas de janeiro a julho deste ano, a maioria destes casos foram referentes a situações de violência previstas na Lei Maria da Penha. Grande parte delas, dentro do convívio familiar. Embora a maioria das defensoras da causa seja de mulheres, sem o engajamento de todos os gêneros no combate a esse tipo de violência, as ocorrências continuarão a acontecer.

Em São Francisco do Conde, grande parte do público da inauguração do espaço era formado por mulheres. Entre os poucos homens, o encarregado de andaimes Amilton Queiroz comemorou a chegada do equipamento. “Atualmente que a mulher está desprotegida, é muita violência doméstica, elas sofrem muitos maus tratos. Eu acho que elas devem ser tratadas com carinho e com respeito”, contou o morador da cidade.

Embora ainda estejam em menor número, os homens têm começado a participar da defesa não só da não-violência, mas também dos direitos femininos, é o que acredita a pesquisadora de questões de gênero em meios digitais, a professora doutora da Universidade Federal da Bahia Graciela Natansohn. “Visualizamos uma discussão pública dos direitos da mulher, violência de gênero, e isso tem sido muito importante. Entre os homens, há uma diversidade muito grande de postura. Muitos estão revisando suas posições, se colocando e analisando qual é o seu lugar nesse panorama. Mas também existem muitas reações aos movimentos, como o feminismo, por exemplo. Nas redes sociais, há dois tipos de comportamentos reativos relacionados à violência de gênero: os chamados ‘haters’, grupos bem articulados a favor do machismo, desconstruindo discursos pela igualdade de gênero. Eu não tenho dúvidas que essas são questões muito sérias, que precisam envolver a todos, mulheres e homens, cis ou trans, gays, lésbicas, travestis”, explicou.

Sendo a violência de gênero um problema de todos, a pesquisadora acredita que grande parte da solução ainda está com as mulheres. “Essas não são questões que os homens cederão facilmente, estamos falando de relações de poder e privilégios construídos ao longo de milênios para o gênero masculino e que não será desestruturado apenas com a vontade de um conjunto de homens, isso vai mudar à medida que as mulheres continuem reivindicando seus direitos, e buscando soluções sociais, culturais, legais e educativos”, concluiu Graciela.

Fonte: Ascom.ba

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