FEIRA EM HISTÓRIA: Técnico em rádio – uma profissão a caminho da extinção.
Até algumas décadas atrás, havia muitos profissionais que trabalhavam intensamente em suas oficinas e ensinavam muitos jovens interessados.
Encontrar uma agulha num palheiro sem dúvida é uma tarefa difícil, que exige muita paciência e vontade, mas somente com grande necessidade alguém pode encarar uma tarefa desse tipo. Talvez ainda não chegue exatamente a esse ponto, mas encontrar um bom técnico de rádio em Feira de Santana está bem próximo disso. Não é que eles tenham deixado a cidade, como água que evapora pela ação causticante do Sol, mas é que quase já não existe o que fazer nessa área de trabalho.
Até algumas décadas atrás, havia muitos profissionais que trabalhavam intensamente em suas oficinas e ensinavam muitos jovens interessados em aprender a arte de mexer com os receptores de rádio, com a meta de ganhar bem, já que os rádios de ondas médias e curtas estavam presentes nas residências, lojas, fábricas e nos carros. Era uma presença obrigatória. Dario Nogueira, da Oficina Internacional na Praça Catedral (ou Praça Padre Renato Galvão), ganhou prestígio a ponto de instalar o transmissor da Rádio Sociedade de Feira em 1948 e permanecer como titular da parte técnica da emissora até o fim da vida, mas sem se afastar da sua oficina.
Do outro lado da cidade, a Rádio Cultura tinha em Peter Suduslowisk, de procedência europeia e que morava na Kalilândia, seu responsável técnico. Ambos, e principalmente Dario Nogueira, formaram vários técnicos que, posteriormente, implantaram suas oficinas. Entre as décadas de 1950 e 1970, a demanda era tão expressiva que muitos, na expectativa de uma formação mais rápida, recorriam aos cursos de técnico em rádio, estudando por correspondência através de instituições como a Wilkason, a Escola Mundial e o Instituto Universal Brasileiro, todos com sede em São Paulo, sendo o último o mais requisitado.
Mediante o curso ministrado pelo Instituto Universal Brasileiro, além de aprender a consertar um aparelho de rádio, o aluno, se assim desejasse, era capacitado para montar um receptor que poderia ser vendido, e vários deles fizeram isso com maestria na cidade princesa. Todavia, com o advento do transistor em lugar das trabalhosas válvulas e de outros modernos equipamentos que substituíram aqueles existentes, a facilidade propiciada aos técnicos tornou-se uma espécie de afago enganoso para o que logo viria com o avanço da tecnologia.
Antônio Carlos Azevedo, o “Bodão”, um dos poucos ainda trabalhando na profissão, na Oficina Nacional, Rua Comandante Almiro, após o Terminal Rodoviário, foi aluno de Dario Nogueira na Oficina Internacional que funcionava na sede da Filarmônica Vitória, na Rua Conselheiro Franco. Tinha por volta de 15 anos e logo aprendeu a mexer com válvulas, transformadores, diodos retificadores, filamentos em rádio, radiolas, toca-discos, alto-falantes e outros aparelhos. Com a chegada dos televisores preto e branco, o trabalho cresceu, e a vinda dos aparelhos coloridos também foi interessante para os profissionais.
Mas, com a substituição dos aparelhos existentes pelos atuais, dotados de placas e praticamente desprovidos de outros itens em seu contexto, ao lado do quase desaparecimento dos receptores de rádio, hoje com sintonia preferencial pelo telefone celular, a profissão de eletrotécnico (técnico de rádio) não tem como resistir. Nem mesmo para consertar TV. Para comprovar, Bodão mostra uma ampla sala repleta de aparelhos de rádio e dois outros espaços com mais de uma centena de aparelhos de televisão à espera do descarte. Antônio Carlos “Bodão” explica que todo aquele material tem de ser descartado de acordo com as orientações técnicas existentes para evitar poluição.
Do mesmo modo, Edmilson Amorim – Michelinho, proprietário da Equipason, autorizada de algumas grandes empresas, mostra o depósito cheio de aparelhos de TV de aparência nova, que apresentaram algum defeito e vão ser descartados. “Hoje um aparelho que apresenta defeito é mais negócio para o proprietário jogá-lo fora e adquirir outro. Na verdade, a estratégia é essa. Os aparelhos são praticamente descartáveis, então já não há necessidade de técnicos. Eu tinha quatro profissionais aqui trabalhando. Agora só eu mesmo, para não ficar em casa de braços cruzados”, garante Michelinho.
* Por Zadir Marques Porto
* Fonte: Portal de Notícias da Prefeitura Municipal de Feira de Santana – Bahia.