Microcefalia: casos de surdez e cegueira são registrados
Já há registros de cegueira congênita, malformação do globo ocular e surdez congênita em bebês que nasceram com microcefalia em decorrência do zika vírus, transmitido pelo Aedes aegypti. A informação foi divulgada ontem, quando o Ministério da Saúde (MS) anunciou o protocolo para orientar profissionais de saúde na assistência de mães e tratamento de recém-nascidos em casos suspeitos da doença que causa a malformação do cérebro do bebê.
Apenas na Bahia, são 180 notificações — o estado é o terceiro em número de casos no país, depois de Pernambuco (804) e Paraíba (316).
Segundo as orientação do MS, crianças com microcefalia deverão ser encaminhadas para atendimento e estimulação precoce durante os primeiros três anos de vida. “O objetivo é reduzir os danos das malformações. Essas crianças tenderão a ter um desenvolvimento ainda mais retardado que as outras crianças. Qualquer criança com surdez congênita terá dificuldades adicionais”, explicou o secretário de Atenção à Saúde do MS, Alberto Beltrame.
De acordo com a pasta, o atendimento nessa faixa etária deverá envolver médicos, fonoaudiólogo e fisioterapeuta, e ocorrerá em centros de reabilitação, como as Apaes, ambulatórios nas maternidades e unidades básicas de saúde. Não estão previstas verbas extras para esses serviços.
Alguns dos bebês com suspeita de microcefalia têm apresentado lesões oculares ou cegueira. Outros têm tido problemas auditivos. Diante disso, o ministério anunciou que 737 maternidades serão equipadas para oferecer exame que verifica danos à audição dos bebês.
Foto: Arte Jornal Correio* |
‘Infelicidade’
A medida integra o protocolo elaborado pelo MS diante da proliferação de casos no país — são 1.761. As ações incluem o registro de todas as gestantes com sintomas do zika vírus, o aumento de testes de gravidez e a coleta de sangue da placenta após o parto. Famílias que tiverem bebês com suspeita de microcefalia devem receber apoio psicológico, disse o secretário, que chamou os casos de microcefalia de “infelicidade”.
Ele orientou as grávidas com sintomas de zika, como manchas vermelhas no corpo, a procurarem imediatamente um serviço de saúde. Todos os casos deverão ser registrados na caderneta da gestante. Ainda segundo Beltrame, profissionais de saúde devem fazer busca ativa de grávidas para que elas iniciem o pré-natal.
Mulheres que tiverem detectado, por meio de exames, alguma alteração no feto devem ter prioridade no atendimento para o parto. A gestação de um bebê com microcefalia não é considerada de risco e o parto pode ser normal. A identificação da microcefalia continuará levando em conta a medida da cabeça de 32 cm no caso de bebês não prematuros. A medição deve ser feita logo após o parto e repetida em até 48 horas. O ministério afirma que o ultrassom pode ser feito já no primeiro trimestre da gestação. A tomografia somente será feita em casos específicos.
O protocolo orienta que sejam coletadas amostras de placenta e sangue do cordão umbilical, placenta, líquido da medula do bebê e sangue da mãe para investigar a origem dos casos e possível ligação com o zika. Segundo o secretário, mães que tiveram sintomas do vírus durante ou após a gravidez não devem parar de amamentar os bebês.
Críticas
Para o presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia, Carlos Lino, o protocolo é uma ação acertada, porém tardia. “Não adianta colocar no papel que é necessário fazer uma ecografia transfontanela nos bebês e não criar condições para que isso aconteça. Em Salvador, os hospitais que oferecem esse serviço na rede pública são o Roberto Santos e a Maternidade Climério de Oliveira, e ambos estão sobrecarregados”, disse.
Lino questionou a demora do governo em adotar medidas de enfrentamento, tanto para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti – transmissor do zika, dengue e chikungunya – como nas ações de assistência aos casos de microcefalia. “Pernambuco lançou o protocolo há meses e já criou 16 centros de atendimento, enquanto o governo federal está lançando o protocolo agora”, afirmou.
Pesquisa sobre zika vírus está parada por falta de recurso
Na Bahia, uma pesquisa que identificou o zika vírus no começo do surto e estudava os efeitos da doença está parada desde outubro por falta de recurso. “Iniciamos a pesquisa em março, com recursos que sobraram de outras pesquisas, mas eles acabaram e tivemos que parar a pesquisa”, contou o farmacêutico e doutor em Virologia Gúbio Soares, da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Os cientistas identificaram o zika vírus após a análise de amostras de sangue de pacientes de Camaçari, através de uma técnica chamada RT-PCR. Na época, a doença ainda não havia sido detectada no Brasil ou na América Latina. Segundo Soares, a falta de recurso dificulta o trabalho dos pesquisadores. “Existem outros grupos de pesquisa do vírus no país, alguns excelentes, mas, apesar do mistério em torno dessa doença, o governo ainda não mostrou interesse nessas pesquisas”, criticou.
Fonte:iBahia