Superpopulação de cães e gatos de rua acende alerta para riscos à saúde humana e animal.
Ações de castração e educação sobre posse responsável ajudam a mudar a cultura de abandono.
A quantidade de cães e gatos em situação de abandono tem se mostrado um verdadeiro desafio para a saúde pública e bem-estar animal no Brasil. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Pet Brasil, cerca de 4,8 milhões de animais vivem em condições de vulnerabilidade no país e mais de 200 mil estão sob a tutela de ONGs ou grupo de protetores, à espera de um lar.
A falta de moradia, além do sofrimento animal e descontrole populacional, interfere diretamente na disseminação de doenças que podem ser transmitidas aos humanos. “O desequilíbrio ambiental causado pela superpopulação de animais de rua pode trazer consequências graves. Indivíduos não castrados se reproduzem livremente, afetando a convivência nas cidades. Outro problema é o risco real de transmissão de zoonoses, como a raiva e a esporotricose”, ressalta Lorena Sampaio, médica veterinária e coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Universidade Salvador (UNIFACS).
Mesmo com números tão altos, o abandono é considerado crime conforme a Lei contra Crimes Ambientais (n.º 9.605/98, Artigo 32). A pessoa que comete essa prática está sujeita a uma pena que varia de dois a cinco anos de prisão, assim como multa e proibição de guarda futura.
Cuidado responsável
Em meio aos impactos na vida dos pets e da comunidade, existe uma solução eficaz para controlar a população de cães e gatos nas ruas: a castração. A médica veterinária explica que o procedimento é seguro e favorece a longevidade, mas deve ser feito somente por profissionais habilitados.
“A castração é uma medida de prevenção, não apenas de reprodução, mas de diversas doenças. Em fêmeas, reduz drasticamente o risco de tumores de mama e infecções uterinas, enquanto em machos auxilia na prevenção de tumores de próstata e testículos. Também melhora o comportamento, atuando na redução de brigas por fêmeas entre os animais de rua”, afirma.
Apesar dos benefícios, ela relata que boatos, sem fundamento científico, ainda dificultam a adesão deste método contraceptivo. Uma das crenças populares é a de que as fêmeas precisam ter cria para serem saudáveis ou só devem passar pelo procedimento após o primeiro cio. “Outro equívoco é associar a castração à perda de vitalidade ou ao ganho de peso. Na verdade, com alimentação equilibrada e atividade física, o animal mantém perfeitamente sua energia e qualidade de vida”, esclarece.
Conscientização compartilhada
A coordenadora do curso de Medicina Veterinária da UNIFACS destaca que a conscientização sobre posse responsável é tão indispensável quanto as campanhas de adoção. Essa é uma tarefa que necessita do envolvimento do poder público, comunidades e instituições de ensino para estimular o compromisso com alimentação adequada, vacinação, castração e planejamento consciente antes da decisão de levar o pet para casa.
“É preciso reforçar que animais não devem ser presenteados ou adquiridos por impulso, sem que exista o real desejo e as condições para garantir o que merecem. Muitas vezes, o problema surge quando o porte do animal se torna incompatível com o espaço do lar ou quando a rotina da família não comporta os cuidados necessários. Ter um pet é uma escolha que transforma o cotidiano e deve ser feita com cautela e amor”, enfatiza Lorena Sampaio.
* Fonte: Juliana Vital – Comunicativa Associados
