Dom José Ruy G. Lopes, OFMCap.

Do efêmero ao líquido

Nos primeiros dias do ano que apenas se iniciou, já é fácil perceber como os sonhos se esvaneceram, ideais foram substituídos e horizontes esquecidos.

Interessante como o tempo que é fugaz, é o ser humano que passa, não sem porque sejamos tratados, ao menos em meios de transportes, de passageiros.

Mais que a fugacidade do tempo, é a caducidade das coisas. Parece até que tudo mesmo tem prazo de validade.

Cristo, Senhor do tempo e da história, Aquele que faz nova todas as coisas, o Verbo Eterno do Pai (Jo 15,9-17) nos ensina a PERMANECER, mais ainda: a n’Ele Permanecer. Sem dúvida uma grande lição de hoje num mundo marcado pela transitoriedade, num tempo sublinhado por relações descartáveis. São poucos aqueles que pensam e planejam o eterno, o definitivamente duradouro.

É uma passagem que pertence ao conjunto de discursos de despedida de Jesus em que Ele pede aos discípulos, além da permanência na fé, também exige a permanência no amor.

Para isto Jesus se faz protótipo e modelo do amor. “Ele permanece no amor do Pai” (Jo 15,10) e “dá a vida por seus amigos”  (15,13).

Como se baseia no amor de Deus, é,  e sempre será pura Graça.

O mandamento do amor não é para covardes e tímidos, mas sua suavidade vive da temeridade dos mártires, semelhante à virgindade cuja dignidade se baseia na audácia intrépida que é maior que a dos guerreiros”. (Santo Ambrósio, De Virg.)

É através do mandamento do amor que se decide conversão ou apostasia.

Num importante trecho do Evangelho segundo João, podemos nos interrogar que sendo o amor a essência de Deus e o sentimento mais nobre do ser humano, como pode ser  uma obrigação, um mandamento?

Lembro-me de uma passagem de um dos livros de saudoso Alceu Amoroso Lima, conhecido e amado filósofo católico no Brasil, em que o mesmo emitia uma crítica a Sheakespeare, quando colocava na boca de Hamlet, a questão: “ser ou não ser”. O Prof. Alceu afirmava que esta não é a questão existencial do ser humano, pois nós já existimos, somos. A questão, segundo ele, é exatamente esta: “amar ou não amar”.

Parafraseando, Kiekegaard, podemos dizer: “o homem que ama de verdade, quer amar para sempre. O amor precisa  ter como horizonte a eternidade, caso contrário é apenas um passatempo”.

Quem ama é bem feliz não somente em poder amar, mas em dever amar. Este é o mandamento mais bonito e mais libertador do mundo.

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