AS MARAVILHAS DOS IRMÃOS GRIMM
“Branca de Neve”, “Rapunzel”, “O Príncipe Encantado”… Qual a criança de gerações passadas e até mesmo das atuais, que nunca ouviu falar sobre um desses personagens? Eles fazem parte das mais de 200 estórias do livro Contos Para Crianças e pra o Lar, lançado na Alemanha, logo após o Natal de 1812, pelos irmãos Grimm, como forma de manter vivos os contos populares e as fábulas de épocas remotas, ameaçados de desaparecer diante da aceleração do progresso.
Jakob tinha 21 anos e Wilhelm 22 anos, quando foram despertados para a pesquisa histórica por um professor. Entraram em ação viajando incessantemente, visitando antigas aldeias, vilas e pessoas idosas em busca de informações e estórias contadas por camponeses e jamais escritas, restritas, portanto à oralidade popular. Um trabalho de persistência que muitas vezes levou os irmãos à indiferença de pessoas procuradas, enquanto outras lhes atribuíam a pecha de loucos. Afinal a quem interessaria contos que falavam em bruxas, casas de pão de ló e pedrinhas falantes?
Mas foi desse modo, coletando casos, fragmentos de lendas e do folclore alemão, que eles editaram em 1812, de forma modesta, o pequeno livro que viria a ser, depois da Bíblia, um dos mais lidos do planeta, senão o mais lido. Assim o trabalho dos irmãos Grimm, Contos para Crianças e Para o Lar, resgatou verdadeiras fábulas, algumas com milhares de anos, que em algumas regiões do país, já não eram lembradas. Foram publicadas duas edições, uma em papel comum, e outra em papel de luxo.
O livro escrito de forma simples para que qualquer criança pudesse ler mantendo o conteúdo das estórias, como haviam sido narradas por pessoas idosas, sem a pretensão de dar lição de moral, obteve grande sucesso. Dele constavam “O Príncipe Encantado”, “Rapunzel”, “O Pequeno Polegar”, “A Gata Borralheira”, “João e Maria”, “Branca de Neve” e outros contos. Depois foram lançados mais dois volumes totalizando 210 contos muitos deles de épocas em que mito e realidade eram tão próximos que se confundiam. “A Gata Borralheira” conhecida em todos os países do planeta é a estória mais contada e dela existem mais de 350 versões.
Algumas dessas estórias de conteúdo mágico foram idealizadas por pais que as contavam para os filhos menos inteligentes e espertos, a fim de firmar a autoconfiança deles. Geralmente o herói pobre e fraco, conquista riqueza e felicidade, com o auxilio da graça divina. Os maus são punidos e às vezes de forma terrível. Filmes, peças teatrais, contos, romances, músicas e corais foram extraídos dessas fábulas que continuam sendo contadas em todo o mundo. Estima-se que já foram vendidos mais de um bilhão de exemplares em nada menos de 20 mil edições, produzidas em mais de 50 diferentes idiomas.
Os irmãos dedicaram 50 anos de vida ao estudo da Antiguidade pesquisando, de forma incansável, em antigos livros e documentos que descobriam, assim aprenderam a ler em 12 idiomas. Jakob era conhecido como “pai da filologia”. Todavia a preservação da magia dos contos, nos livros por eles elaborados, pode ser considerada uma verdadeira obra prima literária, levando-se em conta que ali estão depositadas partes de uma tradição oral que precede o tempo em que o homem aprendeu a escrever.
Os contos dos irmãos Grimm renderam e ainda rendem muito dinheiro para editoras e empresas que os reeditam, no entanto eles nunca foram voltados para o dinheiro e continuaram em uma vida simples, com dificuldades, trabalhando no projeto de um grande dicionário que seria a sua obra primordial, mas não foi concluído por eles. Wilhelm, que sofria de asma e do coração morreu aos 78 anos, em 1858 e Jakob faleceu trabalhando, cinco anos depois, em 1863. Pode-se dizer que Contos para Crianças e Para o Lar, dos irmãos Grimm foi o maior best-seller de todos os tempos, mas eles, como verdadeiros personagens de uma fábula, tiveram uma vida honesta, de pouco dinheiro e muito trabalho, mas de uma dignidade só encontrada em verdadeiros heróis de contos de fada.
(ZADIR MARQUES PORTO)
