Dom José Ruy Gonçalves Lopes

Na Ordenação Presbiteral dos Agostinianos, frei Abdon, frei Gutemberg e frei Everton.

São Paulo, aos 12 de junho de 2021.

Dom José Ruy Gonçalves Lopes

1) Nominata;

2) Saudação aos ordenandos e seus familiares;

3) “Quando eu vim do sertão

Seu moço, do meu Bodocó

A maleta era um saco

E o cadeado era um nó.

Só trazia a coragem e a cara

Viajando num pau de arara

Eu penei, mas aqui cheguei,

4) Mas, aqui cheguei”Eis que vem de Pernambuco, um bispo capuchinho, devoto de Santo Agostinho, para cantar esses versos no dia em que esses irmãos chegam a esta Igreja para receber o sacramento da Ordem. Sim, chegou o dia desejado por Deus e sonhado por vocês.

5) Aqui chegam a este altar depois de terem percorrido as etapas formativas da Vida Religiosa Agostiniana, percorrido estradas, desfrutado de dias alegres  e noites tristes. Aqui chegam para se configurarem ao Cristo Sacerdote pelo sacramento da Ordem;

6) Há quase um ano, Pernambuco e o Brasil católico choravam a partida de Dom Henrique Soares. O assim conhecido “Leão de Palmares”, costumava nas ordenações que pontificava, realçar as palavras da homilia do Pontifical Romano que diz: “lembrai-vos de que fostes escolhidos dentre os seres humanos e colocados a serviço deles nas coisas de Deus”

7) Jubiloso é o dia em que um jovem pela primeira vez pode transformar o pão desta terra no corpo do Senhor.

8) O ponto culminante da vida sacerdotal é o sacramento do altar. “Deus nos convida à sua mesa. Ele nos dá a si mesmo a nós. A dádiva de Deus é Deus mesmo”, afirmava o Papa Bento XVI. “A Eucaristia é a festa santa que Deus mesmo nos dá, ainda que as condições externas sejam as mais pobres. Mas, lembremo-nos, recordava o maior teólogo vivo, a festa vem do sacrifício. Só o grão de trigo que morreu produz fruto. O Centro da vida sacerdotal é o sacrifício de Jesus Cristo. Mas esse sacrifício não pode ser celebrado sem nós. Sem que nós mesmos sacrifiquemos juntamente. Para o sacerdote isso significa que sem sacrifício, sem a fadiga da renúncia a si mesmo, não se pode cumprir verdadeiramente o serviço a Cristo.”

9) Escolheram entre as páginas do Escritura, o capítulo sexto do quarto evangelho, mais conhecido como o discurso do Pão da Vida. Entenderam os confrades que mais do que um discurso, se trata da essência da Eucaristia e do sentido do sacerdócio.

10) No verseto 15 do capítulo 6, São João nos diz que quiseram fazê-Lo rei e Nosso Senhor se retira para o monte, sozinho. Queriam um rei do pão que saciasse a fome e o estômago de tantos indigentes. Nosso Senhor não instituiria nenhum reinado baseado na abundância econômica. As massas queriam força-Lo a fazer-se rei. Era isso que Satanás também queria quando lhe propôs encher as bocas, mudar as pedras em pão. Esse é o ideal da vida mortal, afirmava o grande pregador norte americano, o Venerável Fulton Sheen. Não o podiam fazer rei; Ele tinha nascido Rei. Os sábios sabiam disso quando perguntaram: Onde está o que nasceu Rei dos Judeus * (Mt 2,2). Mais tarde, Pilatos haveria de pergunta-lo: “Tu és rei dos judeus… “ Seu trono seria a cruz e o seu reinado dentro dos corações. O seu reinado começaria por meio divino “dever” da cruz e não por meio da vontade popular. Assim também, mutatis mutandis, é o sacerdócio: ninguém se ordena si mesmo.

11) Naquele dia, exatamente quando falou do “Pão da Vida”, quando por três vezes ao longo do célebre e belo capítulo sexto, Jesus afirma ser Deus, “Eu sou” e “Pão da Vida”, provoca um grande escândalo no coração dos discípulos. É o que está contido no versículo 61, quando “muitos de seus discípulos, disseram: ‘essa palavra é muito dura, quem poderá segui-la”… Um dos versículos posteriores, o 66, diz: muitos dos seus discípulos voltaram atrás e já não andavam em sua companhia”. Um escândalo de fé que provocou a perda de Judas. Também a traição está no capítulo sexto, exatamente no versículo 70, quando Jesus Cristo pergunta: “Não vos escolhi a todos os doze… E, contudo, um de vós é o demônio”. 

12) Queridos Irmãos, perseverem no santo serviço. Não existe nada de mais grandioso no mundo do que emprestar a voz a Deus e poder dizer em seu nome: “Eu te absolvo”, de poder dizer em nome de Cristo, “isto é o meu Corpo”.

13) Nunca lhes falte a fé, sobretudo quando estiverem unidos a Cristo na Cruz. Jamais lhes falte o amor, especialmente quando amargarem a ingratidão e o abandono. Que nunca lhes falte a esperança no prêmio da bem aventurança, na vida eterna. Amém.

Dom José Ruy G. Lopes, OFM Cap

Bispo de Caruaru.

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