Muçulmanas são vítimas de violência, perseguição e abuso pelo Exército

BANGLADESH — O mês era junho e os recém-casados haviam deitado juntos em casa, no Oeste de Mianmar. Pouco tempo depois, sete soldados invadiram a residência. A mulher, uma muçulmana rohingya que concordou em ser identificado por sua inicial, F, sabia o suficiente para ter medo. Militares haviam atacado aldeias do seu povo, como parte do que as Nações Unidas (ONU) chamam de “limpeza étnica” feita por uma nação majoritariamente budista.

Enquanto o marido de F foi preso com uma corda, arrancaram suas roupas e joias e logo o primeiro soldado começou a estuprá-la. Viu o companheiro gritar em desespero e morrer com um tiro no peito e o pescoço cortado. Os soldados ainda arrastaram o corpo nu de F para fora da casa, e incendiaram a construção de bambu onde vivia. Foram dois meses até que ela perceber que sua tragédia estava longe de terminar: estava grávida.

A história de F é apenas umas das 21 que fazem parte de uma investigação da Associated Press (AP). A reportagem especial exemplifica que a violência contra as mulheres rohingyas pelas forças de segurança de Mianmar tem sido abrangente e metódica. Todas as sobreviventes vieram de aldeias localizadas no estado de Rakhine e fugiram para o país vizinho, Bangladesh. As vítimas, com idades que variaram entre 13 e 35 anos, descreveram atos de violência sexual que ocorreram entre outubro de 2016 e meados de setembro deste ano.

Jovens refugiadas rohingyas tentam receber comida em acampamento improvisado de Bangladesh – SUSANA VERA / REUTERS

Os testemunhos reforçam a afirmação da ONU de que as forças armadas de Mianmar estão empregando sistematicamente estupro como uma “ferramenta de terror” que visa exterminar o povo Rohingya. O Exército não respondeu aos vários pedidos da AP para comentar o caso, mas uma investigação militar interna instaurada no mês passado concluiu que nenhum dos atos de violência ocorreu. Quando os jornalistas perguntaram sobre as alegações de estupro durante uma viagem oficial do governo a Rakhine em setembro, o coronel Phone Tint, respondeu: “Essas mulheres alegam que foram estupradas, mas olhem suas aparências. Você acha que elas são atraentes para serem estupradas?”.

A ONU chamou os rohingyas de “minoria mais perseguida na Terra”, com Mianmar negando-lhes a cidadania e os direitos básicos. Milhares de refugiados agora vivem em barracas improvisadas em Bangladesh, onde o ar sufocante cheira a excrementos devido à falta de saneamento e a fumaça de madeira queimada para cozinhar o pouco que há.

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